Gabriela nasceu em Galópolis, Caxias do Sul, e cresceu entre a região Sul e o interior do Mato Grosso. Vinda de família de agricultores, vê seu trabalho marcado pela infância no interior e seus contrapontos nas cidades contemporâneas.

Suas pinturas são um meio através do qual ela revisita esses ambientes e cria territórios fictícios, ao mesmo tempo estranhos e familiares. Sua pesquisa parte de um interesse pelas variações que o espaço causa na nossa percepção do tempo, principalmente nas contradições geradas entre o campo e a cidade, ou mesmo entre a experiência da natureza (de forma mais ampla) e àquela dos centros urbanos contemporâneos. Tem se envolvido, com frequência, no estudo da paisagem e dos processos de construção e abstração da imagem, principalmente através do desenho e da pintura, predominantemente com o uso da tinta óleo e do nanquim sobre a tela.

Suas pinturas mais recentes são vestígios de lugares reais, considerados e então desfeitos, como se restassem deles apenas fragmentos, formas e volumes que desvelam territórios sem necessariamente os representarem. A pintura, nesse sentido, parcialmente reconcilia a obra à uma imagem inicial de um espaço que nem ela mesma parece saber qual é, se aproximando mais das condições da memória, dos sonhos e dos mitos. Por essa razão, os elementos nas obras pertencem mais a uma matéria mental do que a um lugar físico, bebendo das imagens do inconsciente. O conjunto das pinturas cria um lugar onírico e deslocado, eventualmente ocupado pela figura humana – personas anônimas e desconhecidas, fotografadas pela artista e realocadas, através da pintura, a esses outros ambientes. Com uma suavidade intencional, regiões mais ou menos detalhadas pelo pincel e um interesse pelo automatismo na pintura, procura por um olhar que se demore, como se provocasse o espectador na busca por uma outra experiência do tempo.

Seus ambientes estimulam uma certa nostalgia, o mito de algo que aparentemente não pode ser encontrado, acolhendo também a discussão da imagem idealizada que o indivíduo contemporâneo, principalmente aquele que circula na classe média urbana, cria a respeito das paisagens naturais e campestres.